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«Completou-se o tempo
e o Reino de Deus está pró

ximo:
 arrependei-vos e acreditai no Evangelho»
III Domingo do tempo comum (B)

Jn 3,1-5-10; 1Cor 7,29-31; Mc 1,14-20

Caríssimos irmãos e irmãs,

concluímos as Jornadas de Espiritualidade da Família Salesiana, que nos reuniram em alegre celebração e reflexão à volta do Lema 2009, que nos convida a empenhar-nos em fazer da nossa família um imenso movimento de pessoas para a salvação dos jovens.

Esta passagem implica uma mudança de mentalidade, um alargamento do coração e uma vontade decidida de caminhar e trabalhar juntos como nos quis Dom Bosco, tendo em conta que o que importa é o crescimento do Reino através da realização da nossa missão salesiana.

A Palavra de Deus que hoje nos foi proclamada, uma Palavra que, como sempre, vem iluminar a nossa vida e projectá-la para a tornar mais conforme com o desígnio de Deus, pode ser lida em perfeita sintonia com o programa espiritual e pastoral do Lema.

Com efeito, a liturgia deste domingo é caracterizada pelo premente apelo de Cristo a converter-se para ter salvação: «Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos e acreditai no Evangelho». Temos aqui uma síntese do que foi a pregação de Jesus. Trata-se da plenitude dos tempos, de que fala S. Paulo na carta aos Gálatas (4,4), que fez irromper o reino de Deus na própria pessoa de Jesus, em cuja actuação se joga tudo para todas as pessoas a quem é oferecida uma oportunidade que nunca mais voltará a repetir-se: salvar a vida ou perdê-la. Por isso só há tempo para a conversão e para a aceitação do Evangelho.

«O tempo é breve»
Este sentido de “urgência” nota-se já na primeira leitura, que nos descreve a pregação de Jonas em Nínive: «Daqui a quarenta dias Nínive será destruída». Precisamente por não haver tempo a perder, “os habitantes de Nínive acreditaram em Deus e proclamaram um jejum, vestiram-se de saco, desde o maior ao mais pequeno… e Deus desistiu do castigo com que os ameaçara e não lho aplicou”. Ter aceitado na devida altura o apelo do profeta valeu aos Ninivitas a sua slavação e a da cidade: poucos momentos podem decidir uma vida inteira!

Este sentido de “urgência” nota-se sobretudo no curtíssimo excerto paulino, proposto como segunda leitura e tirado da 1ª carta aos Coríntios. Nele Paulo, para melhor fazer compreender aos seus leitores o valor da virgindade como opção radical que leva a aderir “de coração indiviso” ao Senhor, a partir deste momento, recorda que toda a vida cristã está sob o signo do “provisório” e do “efémero”, que não consentem atrasos nas decisões por Deus: “O que tenho a dizer-vos, irmãos, é que o tempo é breve. Doravante, os que têm esposas procedam com se as não tivessem; os que choram, como se não chorassem; os que andam alegres, como se não andassem…; os que se utilizam deste mundo, como se realmente não se utilizassem. De facto, o cenário deste mundo é passageiro.”

Não há, portanto, nenhum valor na vida (como o da família, da alegria, do comércio, do trabalho, etc.) que possa ser obstáculo entre Deus e o homem e que possa “retardar” a nossa total adesão ao Senhor. O “consagrado” – e todos nós o somos em virtude do baptismo e também em virtude da profissão religiosa ou de uma promessa – é precisamente aquele ou aquela que se transferiu afectivamente para além dos ilusórios jogos do “cenário deste mundo”, para se apoiar só em Deus. Embora permanecendo no tempo, está para além do tempo porque “desposou” Cristo como valor definitivo e absoluto! O que lhe permite desde agora inserir-se no éschaton não é a fuga à corrida vertiginosa do mundo para o fim, mas ter feito irromper na sua existência a “plenitude” de vida em Cristo, aquilo que, em linguagem evangélica, podemos exactamente chamar «o reino de Deus».

Isto identifica-se com Cristo, enquanto Ele, no mistério da incarnação, com as suas palavras e com as suas obras transfere já para o meio dos homens a presença e o poder transformante de Deus. Em Cristo “o reino de Deus” irrompeu já no mundo, embora a sua plenitude se realize apenas quando o ciclo da história, – que deste reino tem já em si o fermento e a realização parcial – estiver concluído. Precisamente porque o “reino de Deus” está já presente em Cristo, os homens não podem deixar de tomar posição: ou entrar nele ou ficar fora dele! Quem o rejeita ou não o consegue descobrir, ficará para sempre arrastado pelas perturbações da temporalidade, na pobreza de uma existência sem valor e sem significado.

Por isso é tão importante que possamos levar os jovens a Cristo e Cristo aos jovens. De outra maneira, correm o risco de navegar sem bússola no mar da vida e sem energia para a viver em plenitude como dom de si.

«Convertei-vos e acreditai no Evangelho»
Mas entrar nele não é fácil. Sendo o “reino” uma oferta gratuita da parte de Deus, é igualmente verdade que só se entra nele na condição de cada um de nós se tornar “reino”, quer dizer, transformando-nos, tornando-nos capazes de assimilar o dom que nos é oferecido, sintonizando com as novas exigências que no próprio dom nos são propostas, renovando por isso a nossa vida. Tudo isto está expresso no duplo convite ou, melhor, no mandamento imperioso, que se segue às precedentes afirmações: «Convertei-vos e acreditai no Evangelho». A “conversão” significa mudança de mentalidade, reviravolta nos critérios de avaliação de toda a realidade e de todas as situações (cfr. o discurso da montanha). Tudo isto só é possível com a condição de aceitar a nova “lógica” do reino, que não coincide com as nossas categorias racionais nem com os valores do mundo. É o sentido do último convite de Jesus: «E acreditai no Evangelho». Acreditar é confiar-se totalmente a Cristo e assumir a proposta do seu Evangelho.

O exemplo concreto de uma resposta plena, como que a sublinhar a urgência do apelo e da decisão perante a proposta do reino que está à nossa frente na pessoa de Cristo, é dado pela cena seguinte, a do chamamento dos primeiros quatro discípulos. O chamamento de Jesus apanha-os de surpresa, como peixes na rede. «Vinde comigo, farei de vós pescadores de homens». O que impressiona nesta cena é a rapidez com que se desenrolam quer o chamamento, quer a resposta: «Imediatamente, deixando as redes, seguiram-n’O». É uma prontidão total! Estes homens souberam romper com o passado; até a família passa para segundo plano; o que conta é “seguir” Cristo, tornar-se “pescadores” de outros homens, para participar no “reino de Deus” que está próximo, que agora está no meio deles. Eis o magnífico exemplo que Marcos quer oferecer aos seus leitores de como se aceita o “reino de Deus”: “transformando-se” e “acreditando” no Evangelho. Eis o que Dom Bosco espera da sua família espiritual e apostólica: um gesto semelhante ao do grupo de jovens que, reunidos no seu quarto, no dia 18 de Dezembro de 1859, há 150 anos, decidiram deixar os seus próprios sonhos e projectos para aderir ao seu sonho e ao seu projecto: a salvação dos jovens. Também eles, tendo deixado tudo, o seguiram. “Frade ou não frade, eu fico com Dom Bosco”.

Espero que, na conclusão destas Jornadas de Espiritualidade, sejamos capazes como Família Salesiana de acolher este convite premente à conversão, à plena adesão a Cristo, ao acolhimento do seu Reino, à missão para que outros tenham n’Ele a vida eterna.

 

Pe. Pascual Chávez Villanueva,
Roma, Casa Geral – 25 de Janeiro 2009  

 

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